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Nascido em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, foi o choque com a grande cidade, quando estudou Direito no Rio de Janeiro, que converteu Almir Sater à música. Primeiro a viola dos cantadores nordestinos da praça próxima. E depois, de volta a atmosfera doméstica, o encanto pela viola caipira centro sulista, imantado por dois ases mineiros do instrumento, Renato Andrade (1932-2005), que o cativou pela técnica e Tião Carreiro (1934-1993), pela emoção. Formou uma dupla sertaneja (Lupe e Lampião), tocou com Diana Pequeno, Tetê Espíndola e o Lírio Selvagem, e ingressou no grupo Vozes & Violas, antes desembocar na estreia solo, na Continental, em 1981. No disco, que levou seu nome, ele pôs a prova o que aprendeu: na instrumental autoral "No quintal de casa", terça violas com o ícone Tião Carreiro.
Também participam do vocal de algumas das dez faixas do LP inicial, todas incluídas nesta coletânea, Tetê e sua irmã Alzira Espíndola. E esta dialoga com Almir no chamamé ¿Semente¿ (parceria com Paulo Simões), bordado por harpa: "tão seguro quanto o ar/ ser mais quente no verão/ da semente sai futuro". Acompanhado por um enxuto grupo instrumental (violões, Carlão de Souza, Papete, bateria e percussão, Capenga, baixo), Sater trafega por temas bucólicos,como ¿Canta viola¿, "Flor do amor" e mais "O carrapicho e a pimenta", "Bicho preguiça", "Luz da fé" (as três últimas com Paulo Klein). Mas também articula seu projeto pessoal de redefinir o papel da viola, "de regional para universal". Como no country folk rock "!Estradeiro", escrito com Klein: "não sou louco poeta/nem sou profeta ou monge/ mas viajar, viajei".
No incandescente repertório ainda contrastam o pioneiro hino caipira "Tristeza do jeca" ("eu sou como um sabiá/ quando canta é só tristeza/ desde o galho onde ele está"), de Angelino de Oliveira, de 1924, e a modernista "Cruzada", de 1978, dos sócios do Clube da Esquina, Tavinho Moura e Márcio Borges: "Não quero mais ter sangue morto nas veias/ quero abrigo do seu abraço que me incendeia". Consolidada, a dupla autoral Sater e Teixeira assina ainda a retirante "Canoa", a inconformista "Índios adeus" e lapida sua obra prima, "Um violeiro toca", na voz sempre cálida e envolvente do solista: "tudo é sertão, tudo é paixão/ se um violeiro toca/ a viola, o violeiro e o amor se tocam". A música teria projeção nacional a partir da novela "Pantanal", da extinta TV Manchete, de estrondosa audiência no ano seguinte. E motivaria a coletânea "Almir Sater no Pantanal" (1980), que incluía a regravação, também consagrada, de "Chalana" (Mario Zan/ Arlindo Pinto), de 1952. A viola vivia seu grande momento e Almir é o protagonista desta epifania. (Tárik de Souza)