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Partindo do fascínio exercido pelas fotografias de pacientes histéricas que compõem a iconografia do asilo La Salpêtrière, publicada em Paris entre 1875 e 1880, Georges Didi-Huberman abre, neste que foi seu primeiro livro, as vias que serão exploradas ao longo de toda a sua obra. Os clichês do célebre hospital apresentam uma "visibilidade extrema" e quase escandalosa, permanecendo contudo indecifráveis. A dor e o gozo dessas pacientes são expostos em imagens por vezes atrozes e muitas vezes belas, enigmáticas, sedutoras. Sob esse foco, a histeria talvez seja uma arte. Trata-se da "besta negra" nas palavras de Freud dos médicos da segunda metade do século XIX. Em sintomas estranhos, mutáveis e fabulosos, como as convulsões e as acrobacias do chamado "grande ataque histérico", essas mulheres punham em cena seus corpos e desafiavam a moralidade vitoriana. O ato inaugural da psicanálise consistirá em lhes dar voz e ouvir suas fantasias e memórias (pois, como afirmava Freud, "elas sofrem de reminiscências"). Antes que alguém as ouvisse, porém, as histéricas apresentavam-se sobretudo como objeto do olhar especialmente para o grande médico Jean-Marie Charcot. Resgatando as manifestações histéricas da suspeita de simulação e engodo, Charcot empenha-se em descrevê-las cientificamente e realiza uma verdadeira invenção da histeria como espetáculo. A fotografia vem auxiliá-lo como suposta garantia da objetividade do olhar, mas as imagens das manifestações histéricas escancaram sua natureza teatral e expressiva. Em lugar do face a face inequívoco entre uma lente neutra e uma clara realidade, revela-se então uma relação de amor e de poder entre médicos e pacientes, gerando "evidências" que não são mais que pura aparência, simulacro. Com as espetaculares histéricas, o sujeito triunfa sobre a objetividade da máquina e denuncia a estrutura imaginária da própria realidade. A iconografia da Salpêtrière permite ao autor conceber a imagem como conflito análogo ao sintoma em psicanálise. Perscrutando as brechas que situam a imagem sob o signo da dessemelhança e da ruína e levando Freud a encontrar-se com Aby Warburg, o pensador francês revisita sob essa chave questões fundamentais da história da arte. Incontornável para os interessados em arte contemporânea, o livro traz também uma contribuição notável para a psicanálise especialmente na vigorosa crítica feita à noção de sublimação em uma conferência de 2011, acrescida como posfácio a esta edição. Tania Rivera
Editora : Contraponto; 1ª edição (10 novembro 2015)
Idioma : Português
Capa comum : 504 páginas
ISBN-10 : 857866115X
ISBN-13 : 978-8578661151
Dimensões : 22.6 x 15.4 x 3 cm