Os últimos dias antes dos próximos

Quando sentia uma enorme alegria de viver e tudo parecia se encaminhar para um período de estabilidade pessoal, amorosa, profissional e financeira, George Alonso recebeu em maio de 2008, depois de peregrinar por inúmeros consultórios médicos durante quatros anos, o diagnóstico que mudou a sua relação com o tempo, a família, os amigos e as coisas. Aos 48 anos, o olhar clínico de um neurologista apontava que ele havia sido “mordido” pela Fera -- apelido que deu à doença de Parkinson logo depois de ser impactado pela notícia e pelos primeiros sintomas, que não sabia serem tão devastadores, da enfermidade.

“Os últimos dias antes dos próximos” é um relato pungente, sem pieguice, das mudanças drásticas em sua vida e seu enfrentamento diário com a doença [degenerativa, progressiva e incurável], a desinformação e o preconceito. Além disso, o relato íntimo, que o jornalista decidiu tornar público com o livro, derruba o paradigma de que esse mal afeta apenas pessoas na terceira idade. O texto revela que cerca de 30 mil dos estimados 300 mil brasileiros que têm Parkinson estão na faixa dos 20 aos 50 anos.

A narrativa -- que oscila entre passado e presente – tem momentos que podem provocar nós na garganta do leitor. Mas, sem cerimônia, trata-se de uma reflexão dura e ao mesmo tempo bem-humorada sobre a vida, onde a Fera, como hóspede indesejado, coloca qualquer pessoa cara a cara com a condição humana, falível e passageira”.